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De Infértil à Mãe Pela Graça

Writer's picture: Jeise Ebert dos SantosJeise Ebert dos Santos

Eu sempre desejei ser mãe. Fui uma menina que brincou muito de boneca, de casinha e imaginava intensamente como seria quando eu fosse mãe um dia. Sempre quis me casar também, é claro! E escrevendo isso hoje, vejo que esses sonhos foram realizados de maneira espetacular, muito melhor do que eu poderia ter idealizado. Tudo orquestrado pelas bondosas mãos do Senhor. 


Mas tanto para me tornar esposa, quanto para me tornar mãe, Deus realizou uma série de milagres sobre os quais me alegro muito em poder compartilhar. Sobre o casamento, quem sabe eu compartilhe em outro momento, hoje escolho dividir a respeito da linda, dolorosa e milagrosa jornada pela qual Deus me carregou para fazer de mim mãe. Sim, eu fui carregada, Ele me sustentou, Ele me guiou e me levou. Jamais estive só e esse é o primeiro grande milagre: 


Ele transforma caminhos tortuosos em bênçãos para as nossas vidas, oportunidades para conhecê-lo melhor, e crescer em intimidade com Ele. 


Um diagnóstico desanimador


Quando eu era bem jovem, antes dos 20 anos, eu sentia dores muito fortes durante o período menstrual de cada mês. Na verdade, era tudo tão desregulado que nem chegava a ser mensal. Às vezes, era quinzenal, já em outras, bimestral, e sempre com dores debilitantes, de me colocar em posição fetal, no chão do quarto, e gritar de tanta dor. Eu já havia ido ao médico e a resposta era sempre de que era “normal”, que eu era muito jovem, e algumas mulheres levam anos até terem um período regular e normal. Graças a Deus, minha mãe não se contentou com essas respostas, e quis me levar para investigarmos mais a fundo. 


Me consultei com uma médica que falou conosco sobre a possibilidade de eu ter endometriose. Eu nunca tinha ouvido falar disso (pense, isso faz quase 20 anos, e naquela época, ainda se sabia muito pouco sobre essa doença). Quando eu ouvi essa palavra, meu coração se encheu de medo. Pesquisei, mas não encontrei muita informação sobre o assunto. Continuamos a investigação, através de exames mais profundos, e fui submetida à uma cirurgia por videolaparoscopia para confirmar o diagnóstico. 


Naquela época, nossa família estava passando por muitas dificuldades financeiras, não tínhamos plano de saúde, e muito menos condições para pagar uma cirurgia. Mais um milagre aconteceu, e através de conhecidos. Meus pais encontraram um grupo de médicos que estavam fazendo uma pesquisa sobre endometriose e precisavam de moças para o estudo. Ganhei a cirurgia, realizada por especialistas na área, e nela, meu diagnóstico foi confirmado: “você tem endometriose”. Hoje, eu vejo esse diagnóstico precoce como parte do milagre que Deus já estava operando, pois a maioria das mulheres descobrem a endometriose somente mais tarde, quando está tentando engravidar. Felizmente, isso está mudando. 


A partir dali, eu comecei o clássico tratamento de simplesmente interromper a menstruação tomando pílula contínua. Não preciso nem dizer o que esse tanto de hormônios, que tomei por anos, fez contra a minha saúde. Mas foi o que eu acreditava ser a única solução, e assim segui até bem mais tarde, quando eu estava casada por quase dois anos e decidimos tentar ter filhos, em 2014.


No início, estávamos bem tranquilos, sem tabelinhas, sem consultas e sem exames. Apenas “deixando fluir”. Foi quando, em 2015, passamos a prestar mais atenção e tentar "direitinho" - se é que isso existe. No começo, ficamos com bastante esperança, mas sabíamos que nem sempre acontece tão rápido. 


Um balde de água fria


Depois de quase um ano, comecei a ficar preocupada com a evolução da endometriose, pois sem a pílula, eu sentia medo da doença se espalhar novamente. Fomos nos consultar, e caímos nas mãos erradas. A médica nos pediu vários exames, e após algumas semanas, com os resultados que haviam sido enviados para o consultório dela, ela nos disse que seria impossível termos filhos naturalmente. Usou essa palavra: “impossível”, por TELEFONE. Mas ela tinha a solução! (contém ironia). Nos ofereceu alguns pacotes de tratamento, com preços diferentes e que prometiam chances diversas. Tínhamos consulta agendada com ela, para dali a alguns dias, e nessa ligação, ela pediu que fôssemos para a consulta com o tratamento escolhido, para que a secretária já pudesse estar com os papéis prontos. 


Foi uma tarde de quarta-feira regada de muitas lágrimas. Na verdade, o erro foi nosso, de procurar logo de cara alguém especialista em reprodução humana. Achávamos que esse tipo de médico, como qualquer outro, primeiro cuidava da saúde dos pacientes e depois, de esgotada todas as possibilidades, oferecia os tais pacotes. Ingênuos - eu sei. 


Uma luz no fim do túnel 


Decidimos então procurar um médico especialista em endometriose. Uma amiga que também tem essa doença, indicou o Dr. João, e em junho de 2016 o conhecemos. A primeira coisa que ele disse foi: "primeiro a gente vai cuidar da sua saúde". Sentimos um alívio enorme nesse dia. Depois disso, começou a investigação. Muitos exames, e a constatação de que a endometriose estava causando aderências que poderiam dificultar a gravidez. Fiz mais uma cirurgia, e outros pequenos milagres aconteceram no caminho: um útero limpo, trompas perfeitas, porém, o positivo não chegava. 


Em janeiro de 2017, após alguns exames mais detalhados, feito em nós dois; controles de ovulação e muitas tentativas, os médicos (tanto o meu quanto o do meu marido), nos disseram que nossa única esperança seria engravidar através de uma fertilização in vitro, e que ainda assim, nossa chance seria muito reduzida.


Estávamos cansados. Exaustos. Eu não aguentava mais me submeter a tantos exames. Mesmo assim, começamos a nos programar para fazer a FIV.


Começamos a pensar em quando iríamos fazer, como faríamos para pagar e onde iríamos. Mesmo sabendo que era impossível engravidar naturalmente, continuamos tentando, mês após mês, clamando por um milagre.


Cada mês que o milagre não chegava, eu chorava muito. Sofríamos o luto, que quem já lidou com a infertilidade, conhece muito bem.


Marcamos a primeira consulta na clínica de fertilidade para o dia 17 de junho, de 2017. Queríamos conhecer a clínica e nos preparar para começarmos em agosto. Eu tinha uma viagem de trabalho marcada para julho, então nos planejamos para começar o tratamento depois da minha volta. 


Deus interrompeu nossos planos



Um pouco mais de uma semana antes da consulta agendada, minha menstruação atrasou. Isso já havia acontecido, obviamente, inúmeras vezes. E eu já havia feito vários testes de farmácia nesses atrasos. Sempre muito ansiosa, fazia o exame com no máximo dois dias de atraso.


Dessa vez, comentei com meu marido sobre o atraso e perguntei o que ele achava de fazermos um teste. Ele me aconselhou a esperar mais um pouco, falou que não queria me ver triste, tínhamos um fim de semana animado pela frente, eu concordei.


Passamos um fim de semana muito agradável. O atraso continuou e eu estava com uma alegria inexplicável, bem diferente das minhas TPMs de todos os meses. 


Na segunda-feira, fui trabalhar. Era dia dos namorados (12/06/2017). Cinco dias de atraso. Falei para o Antonio que se até o final do dia nada acontecesse, eu iria comprar um teste. No meu coração, eu já sabia o resultado.


Naquela noite, descobrimos nosso milagre. O teste deu POSITIVO, em segundos. Pulamos de alegria, choramos, oramos e agradecemos a Jesus. Nunca fiz um telefonema com tanta alegria, quanto o que fiz para desmarcar a consulta na clínica de fertilização. 


A Graça superabundou



Hoje, somos uma família de 5. Sim! Deus abriu a porteira do milagre em nosso lar. O Caio nasceu em fevereiro de 2018, e no ano seguinte, engravidei do Levi; ele nasceu em janeiro de 2020, e no ano seguinte, engravidamos da Sara, que chegou em abril de 2022. 


Olhando para trás, vejo que não havia hora melhor para cada detalhe dessa caminhada acontecer. Esse processo fortaleceu muito nosso casamento. Houve crises, ajustes, e diálogos que não teriam existido sem as dificuldades.


Aprendemos também, mais uma vez, que não podemos controlar as coisas. Algo que toda mãe precisa aprender de novo e mais uma vez. A presença de Jesus conosco, trouxe muita paz em momentos de grande angústia. 


Existe uma frase muito usada na maternidade, que é “escolha suas batalhas”. Nem todos os desafios e batalhas que surgem em nossa caminhada, valem de fato a luta. A gente escolhe pelo o que quer lutar e no que persistir. Essa foi uma batalha que escolhemos enfrentar.


Por três anos corremos atrás, e fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Nesse processo, houve um crescimento orquestrado pelo Pai. O “sim” é do Senhor! A vida pertence a Ele e em Sua infinita bondade, Ele molda nossos corações enquanto a resposta é “espera mais um pouco”. 


Agora somos pais e continuamos escolhendo e enfrentando as batalhas necessárias pelos nossos filhos. A melhor notícia é que nunca enfrentamos essas batalhas sozinhos. Contamos com a mão sempre presente de Jesus nas nossas vidas. Caminhamos em um relacionamento de intimidade com nosso criador, seja no “sim”, seja no “não”, seja no “mais tarde, filha”, seja no “é do meu jeito, minha querida”.


Que privilégio e que presente! O maior milagre de toda essa história é o que Ele fez, faz e continuará fazendo nos nossos corações.


Texto originalmente publicado em 2021 e editado para republicação.

2 Comments


Guest
Jun 23, 2023

Que lindo testemunho, Jei! Como é maravilhoso contemplar como o nosso Deus é poderoso para fazer infinitamente mais 🥹🙌🏻

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Guest
Jun 23, 2023

Lindíssimo testemunho. Conheci sua história pelo podcast " mães pela graça". Sou mãe de três bebês que moram com Jesus , minhas gestações foram breves , e minha história parece um pouco com a sua no sentido de chorar e entregar aos pés do Senhor esse desejo de um dia pegar meu bebê no colo. Atravessei diversas trajetórias, dentre elas especialistas , exames, e etc. Tudo indica sempre que esta tudo ok para uma gestação , mas um especialista nos indicou um tratamento para segurar a gestação. Mais uma vez temos entregado nosso coração , anseios e desejos nas mãos do Abba , sabendo que Ele cuida de nós, e que Ele tem planos melhores que o nosso. Me edificou…

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