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Maternidade Alicerçada - Parte 3

Writer: Keila Valentin VasconcelosKeila Valentin Vasconcelos

Eram 5 horas da manhã, quando eu fui me virar de lado, e ouvi um pequeno ruído, logo em seguida, senti a cama molhada. Minha bolsa havia se rompido. Foi uma surpresa, uma vez que aquela era a minha primeira vez tendo essa experiência, mesmo já sendo mãe de dois.

 

Acordei meu marido, levantei-me e fui ao banheiro para me certificar do que realmente havia acontecido. Não entramos em pânico, resolvemos ligar para o hospital na intenção saber o que fazer, pois estávamos em plena pandemia.

 

O cenário era completamente diferente das outras vezes, pois resolvi ganhar meu terceiro filho com quem estivesse no plantão. Eu esperava por um parto natural, mesmo já tendo duas cesáreas na conta e uma curetagem da primeira gravidez.

 

Recebemos a resposta de que eu deveria me dirigir ao hospital. Tomei um banho e logo seguimos. Lá, eu disse para a médica que me atendeu, que gostaria de tentar um parto normal; ela vendo o meu registro de duas cesáreas anteriores, disse que era bem provável que a médica que assumisse o plantão a seguir, não realizasse o parto normal. Mesmo assim, me encaminhou para a sala de parto natural, e ali fui orientada a tomar outro banho. Assim o fiz.

 

Estava sentada na cama esperando as dores da contração aparecerem, quando a médica que assumiu o plantão chegou. Ela verificou minha ficha e mandou as enfermeiras me enviarem para outro quarto, pois eu não poderia realizar um parto normal. No quarto, ela me explicou que uma vez que eu não havia sido sua paciente no pré-natal, ela não poderia acompanhar um parto normal, por isso ela realizaria uma cesárea.

 

Naquele caos que foi a pandemia, meu marido não pode acompanhar o parto, saí daquele quarto sozinha com as enfermeiras, que me levaram até a sala de cirurgia.

 

Enquanto eu recebia anestesia, a médica me perguntou: “Você fará a laqueadura?” Eu respondi toda contente que não, pois queria ter mais filhos. Para a surpresa de todos naquela sala: “Mais filhos?” O procedimento seguiu.

 

Timothy veio ao mundo. Agora estava só eu, a médica, e outras enfermeiras. Enquanto ela me costurava, olhou para mim e disse: “Mamãe, teu útero está mais fino que um papel. Ainda bem que não tentamos o parto normal, e te aconselho a não engravidar mais.”

 

“Os filhos são um presente do Senhor, uma recompensa que ele dá. Os filhos que o homem tem em sua juventude são como flechas na mão do guerreiro. Feliz é o que tem uma aljava cheia delas; não será envergonhado quando enfrentar seus inimigos às portas da cidade.” Salmo 127. 3-5

 

Eu cresci numa família grande. Somos em seis irmãos, sendo quatro mulheres e dois homens. Quando meu pai faleceu em 2006, todos foram de grande ajuda para a minha mãe.

 

Quando éramos pequenos, minha mãe nos reunia em volta da mesa depois do café da manhã e fazia devocional conosco. Todos nós orávamos, e ela encerrava com uma oração. Eu cresci desejando ter uma família grande. E meu marido se unia a mim nessa ideia; para nós, filho nunca é demais, pois são um presente do Senhor.

 

Naquele dia em que o TimTim nasceu, eu recebi uma notícia que colocaria fim a uma expectativa criada por mim: ser mãe de muitos filhos. É verdade que eu saí do hospital contrariando o que os médicos me disseram, pois cria que se Deus quisesse me dar mais um filho, ele assim o faria, porque Ele é Deus. Mas com o passar dos anos, me contentei com os três homens que Ele me deu.

 

E é isso que eu quero tratar aqui nesse artigo, com vocês, queridas mamães. Preparadas? Lembram-se que eu tenho deixado um presente, para que vocês possam usar enquanto refletem sobre o texto de Salmos? Pois então, corre para baixar este recurso. (Clica aqui!)

 

Presente baixado, texto bíblico aberto, artigos anteriores lidos, agora vamos ao que interessa.

 

Compartilhei anteriormente como eu havia planejado a minha vida até a chegada do meu primeiro filho, havia um desejo em meu coração de ter uma família grande. Fazer planos é bom e válido. É certo que criamos expectativas que muitas vezes são frustradas, a verdade é que os planos do Senhor nunca falham. Por isso, construir uma maternidade alicerçada em Cristo é importante. Colocar todas as suas expectativas em você mesma, ou em seu cônjuge, ou em qualquer outro lugar que não seja Cristo, irá ser frustrante.

 

Quando eu estava grávida do Timothy eu pensava: “Vou tirar de letra, já tenho 2”. Contudo, eu parecia uma mãe de primeira viagem perdida, e experimentando a dura realidade de ver meu orgulho sendo esmagado. Eu precisei descer dos degraus da mãe perfeita e aceitar o fato de que eu precisava aprender sobre humildade. Eu estava firmando meus alicerces no lugar errado e meu castelo ruiu na areia.

 

“Os filhos são um presente do Senhor, uma recompensa que ele dá”. Ele nos dá por graça e não por mérito. Nos dá por sua livre e soberana vontade. Não há nada em nós que podemos dizer: “é porque Ele me ama mais, ou porque sou uma boa cristã”. É por graça, e somente por graça. Mas se é uma recompensa, deve haver algum mérito?

 

Nos versos anteriores (1 e 2) o Salmo 127 começa nos mostrando que aquele que intenta construir uma casa ou vigiar uma cidade sem o Senhor, fará tudo isso em vão. É loucura intentar qualquer coisa nessa vida sem que Deus esteja nos guiando. Desta forma, receber do Senhor o desafio da maternidade é obra de graça e não de mérito. Quando o Senhor intervém, há bênção.

 

O salmista, ao iniciar o verso 3, faz uso da seguinte palavra no hebraico: “hinneh” que quer dizer: “Veja, eis que ou tome nota”. O salmista quer nos dizer que edificar uma família é dádiva de Deus. Quão precioso é isso: seu maternar é uma obra amorosa do Senhor por sua vida. Não é fardo, é um sublime amor de Deus por sua vida: é graça.

 

Então quer dizer que aquelas que não têm filhos são menos amadas? De jeito nenhum. Deus certamente, em seu perfeito amor, transbordará de bondade de outra forma, até que em sua soberana vontade, faça a estéril dar à luz.

 

Quando eu perdi meu primeiro filho, fui tomada de um sentimento angustiante de que Deus teria me tirado o privilégio de ser mãe e dado à outra mulher. Ele sabe o quanto eu lutei para mortificar tal pensamento, até render-me em gratidão por Ele saber o que era melhor para minha vida. Alguns meses depois, Ele me concedeu o privilégio de gerar novamente. Ele me daria a dádiva de edificar um lar.

 

Você sabe o que é preciso para a construção de uma flecha? É preciso um graveto morto e duro, mas ele deve ser o mais reto possível. As vezes, podemos usar uma madeira nova, mas que deve ser seca sobre o fogo. É preciso agora, talhar esses gravetos até que eles fiquem lisos, em seguida, é necessário afiar a ponta em forma de espeto ou inserir um metal, pedra, vidro ou osso pontiagudo e amarrar com uma linha. Na ponta oposta, você pode emplumar com penas, pois elas funcionarão como um leme em um navio ou avião pequeno, guiando a flecha com maior precisão ao alvo, funcionando também como um planador, o que faz aumentar bastante o alcance da flecha. Contudo, esse detalhe é difícil de aperfeiçoar.

 

Pronto, você já sabe o básico para fazer uma flecha. Curiosamente, meu nome no hebraico tem um significado interessante: “cidadela ou fortaleza”, por extensão: “aquela que reúne os membros de uma congregação”. Diz também que pode derivar de Kelli - Donzela Guerreira. Em todo caso, gosto de pensar que recebi esse nome com algum propósito.

 

Sou uma mãe de três meninos, que, juntamente com meu marido, decidi me dedicar integramente ao lar e a maternidade. É claro que tal decisão trouxe consequências, mas elas estão em comum acordo com meu marido e foram tomadas em oração. Como uma donzela guerreira, recebi do Senhor “três gravetos”. Tenho a missão de torná-los o mais reto possível.

 

O verso 4 nos diz que “os filhos que o homem tem na sua juventude são como flechas na mão do guerreiro”. Como uma donzela guerreira, sinto-me incumbida de talhar essas três flechas, de forma que ao usá-las eu possa lançá-las no alvo: a glória de Deus. Tal trabalho seria inútil se eu o fizesse sem o Senhor. Por isso eu procuro dia após dia, alicerçar o meu maternar em Cristo, porque o meu objetivo ao criar os nossos filhos é glorificar a Deus.

 

Afiar um graveto morto, em delitos e pecados, não é a coisa mais simples a se fazer, é trabalhoso, e um trabalho que depende de graça. Com o tempo, temos a tendência de achar que por muito afiar flechas, já sabemos cada detalhe, e certamente tiraremos de letra ao executar o trabalho. Doce ilusão, cada graveto é único e digno de atenção, dependência dobrada daquele que o formou.

 

Os filhos são comparados a ‘flechas’. Nós sabemos que gravetos não são, por natureza, flechas; eles não crescem assim, mas são convertidos em flechas; por natureza, eles são nodosos e ásperos, mas com arte são suavizados e embelezados. Assim também os filhos, por natureza, são ásperos e desobedientes, mas com a educação são refinados e reformados, e tornados dóceis a vontade e ao prazer divino.”

(George Swinnock, 1627-1673).

 

Joseph Caryl, disse: “os filhos são uma bênção, e alguns têm muitas bênçãos em um único filho. Os filhos são principalmente uma bênção para os filhos de Deus.” O verso 5 deste Salmo, nos diz: "Feliz é o que tem uma aljava cheia delas (flechas); não será envergonhado quando enfrentar seus inimigos às portas da cidade”. Gosto muito do que Spurgeon diz sobre esse verso:

 

“Quando os filhos e filhas são flechas, é bom ter uma aljava cheia deles; mas se são apenas gravetos, nodosos e inúteis, quanto menos, melhor. Embora sejam bem-aventurados aqueles cuja aljava está cheia, não há razão para duvidar de que muitos que não tem aljava também sejam bem-aventurados; pois uma vida tranquila pode não necessitar de uma arma tão hostil. Além disto, uma aljava pode ser pequena e ainda estar cheia; e então a bênção é obtida. De qualquer forma, nós podemos ter certeza de que a vida de um homem não consiste na abundância de filhos que ele possui.”

 

Eu desejava ter uma família numerosa, mas Deus fez a minha aljava ser do tamanho perfeito para três flechas, e assim ela estaria cheia. Talvez sua aljava seja do tamanho de uma flecha, e ela já estará cheia o suficiente para que possas cumprir o propósito de Deus nessa terra. Lembre-se, Ele usou trezentos guerreiros para destruir os midianitas (Juízes 7.16-25). Ele pode usar uma flecha para cumprir sua vontade!

 

Adam Clarke, disse: “É um fato que: ben, um filho; bat, uma filha, e bayit, uma casa, se originam da mesma raiz, no hebraico - banâ, edificar. Porque os filhos e filhas edificam uma casa ou constituem uma família, da mesma maneira como pedras e madeira constituem uma edificação. É verdade que, a menos que a boa mão de Deus esteja sobre nós, não conseguiremos ser bem-sucedidos na edificação de um local de adoração para o seu nome. A menos que tenhamos a sua bênção, uma morada não poderá ser confortavelmente erigida. E se a sua bênção não estiver nos nossos filhos, a casa (a família) poderá ser edificada, mas, em lugar de ser a casa de Deus, será a sinagoga de Satanás.”

 

Quando nossa maternidade está alicerçada no lugar certo – Cristo –, nós construímos um lugar de adoração para o Seu nome. Que Jesus nos abençoe, porque sem Ele, tudo é em vão.

 

Um feliz Dia das Mães!



 

Referências bibliográficas:

Bíblia NVT – Nova versão Transformadora,

Série de Comentários bíblicos – Salmos - João Calvino.

Os Tesouros de Davi Volume 3 – Charles H. Spurgeon .

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