Muitas vezes se tem a ideia de que o amor é intrínseco à maternidade. Como se o amor estivesse automaticamente garantido na relação mãe e filho(a), desde o nascimento. Uma ideia que se mostra equivocada na experiência de boa parte das mulheres que experimentam a maternidade. Mesmo que não seja verbalizado, muitas vezes as mães, se sentem confusas em seus sentimentos quando recebem aquele serzinho em seus braços, agora denominado seu filho, sua filha. Isso acontece, basicamente, porque nas relações humanas o vínculo não nasce pronto, mas é construído na relação.
O amor entre mãe e filho(a) só se funda quando o indivíduo é acolhido e incluído na vida materna. Esse movimento é primordial para o desempenho da maternagem. O acolhimento amoroso se forma num processo de reconhecimento de que cada filho(a) é um indivíduo especial e único que merece ser amado, aceito, incluído, reconhecido, respeitado, e valorizado pelo que é. Não se trata de estabelecer seu narcisismo, mas de marcar a sua identidade como pessoa.
Cada filho(a) chega com particularidades que encantam e desafiam ao amor. Com seus aspectos pessoais ensinam que Deus os formou singulares. A nós cabe acolher, aceitar, incluir, amar, cuidar e educar para a vida. Isso inclui abrir o colo da alma para aceitar os filhos do modo como Deus nos deu.
Os filhos são “Herança do Senhor” (Salmo 127.3) dada a nós, não como se fossemos merecedores de um prêmio, mas como um bem precioso para amar e cuidar. Qualquer herança requer cuidados especiais, incluindo um empenho consciente e responsável para que não seja perdida e que o seu valor seja mantido, ou mesmo ampliado. Similarmente, a chegada de um(a) filho(a) como herança envolve cuidados para que não se perca. Deve-se trabalhar para que a sua valorização como pessoa seja ampliada. Os investimentos no convívio familiar e social, contendo valores relacionais, éticos, morais e espirituais, contribuirão para que cresça, se desenvolva e aumente o seu valor como pessoa. Essa é uma caminhada de dedicação e amor a ser construída em cada dia, na relação.
Sendo assim, a tarefa de amar os filhos não pode ser adiada. O tempo para amar é agora, não importa a idade em que o(a) filho(o) esteja. Se for um bebê, hoje é o tempo para segurar, embalar, sorrir, retribuir com ternura aquele olhar meigo e terno que busca certificar-se o quanto pode confiar. Se já cresceu um pouquinho e está cheio de curiosidades interpelando seus pais com infindáveis perguntas sobre o que percebe à sua volta. Esse é o tempo ideal para amar, dando atenção, apoio e paciência, estimulando e ajudando gradativamente a celebrar os sucessos, mas também a enfrentar, por vezes, as experiências de frustração. Também é tempo de amar se o(a) filho(o) for um adolescente e estiver enfrentando os novos formatos e responsabilidades diante dos desafios da vida, equilibrando a retirada da dependência infantil com a independência, que vai se apresentando como necessária para poder adentrar logo mais na vida adulta. Se já tiver “voado do ninho”, também é tempo para amar, respeitando e dando-lhe créditos na administração de suas escolhas e posturas em sua vida adulta.
Certamente que os filhos precisam do colo físico, ou seja, de moradia, alimentação, vestimentas etc. Mas, para muito além do colo físico, os filhos precisam do colo da alma. Aquele colo que inclui, cuida e ama incondicionalmente, promovendo o sentido do pertencimento. Sendo assim, o amor, mesmo que não seja intrínseco à maternidade, estará plenamente a ela atrelado e conjugado.
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