“Todos queremos ouvir a história de um milagre, ver um milagre, ter a marca de um milagre, mas não
queremos precisar desesperadamente de um.”
Bianca Toledo
Lemos essa frase na segunda semana do ano de 2013, alguns dias após realizarmos um ultrassom 3D, às
vésperas de completar sete meses de gestação. Esse exame tinha o único objetivo de satisfazer um pouco
a curiosidade de conhecer o rostinho do nosso primeiro filho. No entanto, ele nos revelou que, a partir
dali, precisaríamos desesperadamente de um milagre.
O médico que realizou o exame, nos explicou que havia encontrado uma alteração na cabecinha do Davi:
faltava a estrutura que faz a ligação entre os hemisférios cerebrais, o corpo caloso - importante no
desenvolvimento motor e da fala. O diagnóstico dado foi de “agenesia de corpo caloso”, uma anomalia
congênita que se caracteriza pela ausência dessa estrutura.
Fomos pra casa um tanto calados, resistentes em procurar informações na internet. Por telefone, contamos à nossa obstetra sobre a situação. Ela providenciou para que repetíssemos o exame no dia seguinte, com um especialista em medicina fetal. Naquela noite, apenas oramos mais uma vez, como já fazíamos desde o início da gestação, entregando o Davi nas mãos de Deus, declarando Seu controle na vida do nosso filho.
Realizamos o segundo ultrassom, e o diagnóstico foi confirmado, embora seguido de uma conversa cheia
de explicações e detalhes sobre percentuais que demonstram ser, na maioria dos casos, uma condição
assintomática ao longo da vida. No entanto, poderia causar epilepsia e retardo no desenvolvimento psicomotor em cerca de 15% das pessoas acometidas por essa alteração. A partir dali, classificaram minha gestação como uma gravidez de risco e nos orientaram a fazer uma série de outros exames para investigar a existência de outras possíveis alterações - tendo em vista a possibilidade de déficit mental, que varia de acordo com a extensão da agenesia - e a associação com síndromes e outras má formações. Ali começou um tempo de choro, mas procuramos chorar na presença de Deus. Fizemos o propósito de clamar diariamente pelo milagre que desejávamos. A partir de então, todas as nossas noites de sono só começaram após impormos as nossas mãos na barriga, depositando nossas lágrimas aos pés
dos Senhor, pedindo para que Ele formasse aquela estrutura no cérebro do Davi.
Nós declarávamos a Palavra de Deus, em Romanos 4, verso 17:
Deus chama à existência, coisas que não existem, como se existissem.
Pela fé, o Davi já tinha sim, o corpo caloso!
Vinte dias depois, fizemos um terceiro ultrassom, que foi quando Deus começou a nos apresentar o início
do que Ele estava por realizar. O mesmo médico que havia feito o primeiro exame, disse que agora
visualizava uma parte da estrutura, e disse que se tratava então de uma “agenesia parcial do corpo caloso”.
Ao questionarmos se ele já tinha visto esse diagnóstico mudar, ouvimos a resposta de que isso não era
possível, pois se tratava de uma estrutura desenvolvida entre a décima segunda e a vigésima semana de
gestação, ou seja, até o quinto mês de gravidez. Infelizmente, não saimos da clínica mais animados nesse
dia. O médico também nos alertou que seria interessante procurarmos um geneticista, pois, além do que já
havia sido constatado, foi verificado que as circunferências do abdômen e da cabeça estavam bem
aumentadas para a idade. Agora tínhamos mais um fato que nos preocupava: o Davi tinha macrocrania e
não sabíamos o que isso poderia significar.
Nossa família não sabia o que estava acontecendo. Minha irmã e a irmã do meu marido também estavam
grávidas e decidimos não contar, a fim de poupá-las, e não criar expectativas negativas e preocupações
constantes. Queríamos continuar curtindo nossa gravidez e decidimos que venceríamos essa fase difícil
nos braços do Senhor. Compartilhamos apenas com um casal de amigos e com os nossos líderes, para que
se tornassem nossos companheiros de oração.
Para me acompanhar nos exames que ficariam mais frequentes, meu marido precisou deixar seu chefe
ciente da situação, a fim de justificar suas ausências. Este, por sua vez, comunicou ao diretor que,
sensibilizado, procurou seu sogro, um neuropediatra renomado, e nos colocou em contato com ele. Logo
reconhecemos que não se tratava de coincidência, mas da providência de Deus. Esse neuropediatra nos
informou sobre a possibilidade de fazermos uma ressonância intra útero, para identificarmos com
precisão quaisquer alterações e possibilidades de tratamentos antes mesmo do nascimento. E antes de
consultarmos, já providenciou para que fizéssemos o exame rapidamente com um excelente profissional.
E então constatamos o primeiro milagre! Ao finalizar o procedimento, a primeira frase que ouvimos foi:
“O corpo caloso está lá!”
Aleluias!! Meu coração glorificou a Deus intensamente!
Todavia, a boa notícia foi seguida por mais apreensão. Ele disse que havia identificado outras três
alterações cerebrais.
Ao apresentar o resultado para o neuropediatra, ouvimos a seguinte afirmação: “A ausência do corpo
caloso me deixaria menos preocupado do que o que estou vendo”. Ele explicou que havia uma assimetria
de ventrículos, o que poderia ser a causa de uma hidrocefalia, entre outras questões. Explicou
também que o cerebelo tinha um tamanho bem menor do que deveria e que esse órgão é responsável pelo
equilíbrio motor. Essa segunda informação nos alertava para a possibilidade do Davi vir a precisar de
fisioterapia para conseguir se sentar ou andar. A terceira e mais preocupante alteração tinha relação com o
contorno cerebral. O laudo dizia que não se descartava o risco de polimicrogiria, uma má formação que
leva o paciente a ter crises convulsivas e distúrbios de linguagem. O médico nos preparou para o risco do
Davi ter convulsões ao nascer e que por isso ele deveria ir direto para a UTI neonatal.
O que poderia nos deixar abalados, na verdade comprovou a nós mesmos que nossa fé já havia sido
fortalecida. Fomos para casa concordando um com o outro, que assim como Deus havia formado o corpo
caloso, podíamos confiar na Sua fidelidade para completar a obra que começou na vida do nosso filho. E
prosseguimos, depositando nossas lágrimas diariamente diante do Senhor.
Os nove meses se completaram e, infelizmente, não podíamos mais aguardar pelo parto normal. Os
médicos não tinham segurança quanto a qual seria o quadro clínico do Davi ao nascer. A bolsa rompeu na
noite anterior ao dia marcado para a cesárea, mas o trabalho de parto não começou. A cabecinha já estava
tão grande que não passava pelos ossos da pelve para ajudar a pressionar o colo do útero. Fomos em paz
para a cirurgia, crendo no controle e cuidado de Deus para com a vida do Davi e para comigo. O
neuropediatra o avaliou ao nascer, e após uma segunda avaliação, na noite seguinte, chegou em nosso
quarto com uma notícia que fez com que nos sentíssemos em um desabamento. A circunferência da
cabecinha estava muito maior do que a medida ao nascimento, e isso fez com que fosse agendada uma
ressonância de urgência para o dia seguinte.
Finalmente compartilhamos os detalhes com os nossos familiares e amigos da célula, e todos levantaram
um clamor pela vida do Davi. Lembro-me daquela noite, do meu esposo de joelhos no quarto do hospital,
fazendo uma oração marcante, reconhecendo que o Davi não era nosso, mas, como Abraão que entregou o seu filho Isaque, nós também o entregávamos para que Ele cumprisse o Seu propósito.
O novo exame veio com a concretização do milagre; o médico que realizou o procedimento, chegou com
um semblante leve e tranquilamente anunciou algo que era além do que imaginávamos ouvir: “Se eu não
tivesse visto a ressonância anterior, eu jamais diria que esse menino teve risco de polimicrogiria. O
contorno do cérebro dele está perfeito!”.
E assim experimentamos o que a Bíblia diz sobre Deus ser poderoso para fazer infinitamente além do que
pedimos ou pensamos.
Durante todo o seu primeiro aninho de vida, o Davi foi submetido a vários exames que comprovaram, um
após outro, que nenhum dos riscos ou sintomas esperados para as demais alterações, se manifestavam.
Dez anos se passaram, e temos contemplado o seu desenvolvimento perfeito! Levantamos um altar de
adoração a cada aniversário comemorado, ao testemunharmos de alguma forma o que vivemos.
Comprovamos o que um dia aprendemos: que Deus não permite certas circunstâncias em nossas vidas
sem um motivo. Passamos a viver um novo tempo. Um tempo em que temos o privilégio de conviver
com uma prova viva do poder de Deus, um "milagrinho", em forma de gente. Um tempo em que fazemos
questão de compartilhar sobre ele com todas as pessoas ao nosso redor, para que tenham a oportunidade
de conhecer e se relacionar com o Deus único e verdadeiro, o Deus que envergonha a incredulidade e que
surpreende a ciência, que visita na aflição e se faz presente na hora da angústia.
Cremos que o Davi existe para testemunhar diante de sua geração que nosso Deus opera milagres!
(Escrito em março de 2014 e editado para publicação).
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