top of page

PARINDO O PERTENCIMENTO

Writer's picture: Clarice EbertClarice Ebert

Parir é finalizar uma espera, um preparo e deixar nascer. Uma mãe que chega ao parto, está diante da finalização de sua gravidez e do aviso de seu bebê que está pronto para sair do útero gestacional. O parto pode ser um processo biológico, mas também afetivo. Há muitos úteros que gestam filhos, mesmo que não biologicamente. Assim, um parto pode ser normal, cesáreo ou via coração.


Em nossa família fomos agraciados pelas três formas de parto. Nós, meu marido Claudio e eu, gostamos de ilustrar a entrada de nossos filhos ao nosso lar da seguinte forma: o Jeison veio via parto normal, a Jeise via parto cesariana e a Jamine via parto do coração. Essas três formas de parto passaram a ser metáforas para a chegada dos três filhos, sendo que a experiência da chegada de cada um deles carregava o aspecto do parto normal, do parto cesariana e do parto do coração. “Normal” pelo desejo de ter cada um deles como filhos. “Cesariana” pela ruptura do nosso estilo de vida, que se modificava na chegada de cada um deles. “Coração”, diante da alma que se abria para acolher e dar o colo do pertencimento a cada um deles. Nesse sentido, não havia mais diferença entre quem deles era adotivo ou biológico, pois o nosso coração e a nossa alma os havia parido e adotado igualmente.


Parir é expelir de dentro de si, é dar à luz, ou seja, é dar existência a uma vida. A vida, ao nascer em forma de gente, precisará ser suprida de ar, comida, higiene e sono. Mas, não basta, pois para a existência do sujeito ser completa, será indispensável supri-la de afeto. Assim sendo, ao se parir uma vida, juntamente deve-se parir seu pertencimento. Desejável é que o pertencimento dos filhos seja gerado desde a sua chegada à família! Sem o pertencimento, a vida que chega pode até sobreviver e crescer, mas pode não se desenvolver satisfatoriamente como sujeito ou pessoa. Uma pessoa precisa do sentido de pertencimento para se desenvolver bem e ocupar o seu lugar no mundo com sua essência.


O pertencimento deve ser incondicional. Não importa o que aconteça, um filho deverá saber que continuará sendo amado, aceito e não perderá jamais o seu lugar em sua família. Independente de quais conflitos ou desafios que a família vier a enfrentar, um filho deveria continuar a pertencer. A retirada de afeto jamais deveria ser uma ameaça ou uma forma de disciplina, para que os filhos obedeçam a seus pais. Ser amado ou pertencer à família não pode ser visto como um “reforço” para “treinar” um bom comportamento. Os limites e a disciplina devem ser atos mobilizados pelo amor. A retirada de afeto não educa, apenas machuca e fere a alma.


Parir o pertencimento, “significa incluir no sistema familiar cada filho que chega, dando-lhe um lugar especial de indivíduo, que merece ser amado, aceito, reconhecido e valorizado pelo que é. Porém, não de forma narcísica, como se ninguém mais fosse importante, mas num aconchego em que o colo que recebe, propicie um lugar de pessoa que merece ser vista, ouvida, reconhecida, respeitada e educada para a vida.” *



____________________________________

*EBERT, Clarice. Eduque seu filho, nisso há esperança: uma perspectiva sistêmica para a educação de filhos. Curitiba: CRV, 2019.

Comentários


bottom of page