top of page

Salmos para mães - Pausas e resoluções

Writer's picture: Keila Valentin VasconcelosKeila Valentin Vasconcelos


Dias após eu escrever o artigo sobre culpa de mãe, eu mergulhava, angustiada, em um poço profundo de culpa, daquelas que cravam suas garras pontiagudas na alma e parecem injetar doses de tristeza e sofrimento. Palavras sumiram da minha boca e eu não conseguia clamar, apenas as lágrimas rolavam pela minha face enquanto eu lavava a louça do dia anterior. Resmunguei para mim mesma que era só a noite mal dormida, mas lembrei-me dos incontáveis compromissos que eu tinha, olhei a minha volta e a casa estava uma desordem, as roupas acumulando no cesto para serem dobradas e o pensamento irônico me acusando chega à minha mente: Que bela dona de casa eu sou! Com os pensamentos fervilhando na minha cabeça, andava de um lado para o outro angustiada. Em tese, eu sabia o que deveria fazer, mas não fiz e em vez disso saí de casa para espairecer.


Eu precisava ir até a marcenaria, e precisava ir sozinha, pois iria buscar uma mesinha que eu mandei fazer para o meu pequeno Tim Tim poder desenhar e pintar, e ela era um pouco grande e não caberia no porta-malas, mas caberia dentro do carro, por isso eu deveria ir sozinha, e esta também era a oportunidade de um tempo a sós. Deixei as crianças com o papai e fui, balbuciando algumas palavras ao Senhor.

Pensei que poderia ser a TPM chegando e mencionei isso a Deus. Na volta para casa, passei numa doceria e comprei algodão doce e jelly beans, nem preciso dizer que acabei com eles antes de dar a partida no carro. Lá no fundo eu suspirava: “Há algo de errado aqui dentro, Jesus! Me ajuda!” E continuei me questionando: “Será que sou mesmo cristã?” A minha mente aqui já estava sobrecarregada de pensamentos que me culpavam ainda mais, e eu tinha pequenos vislumbres das palavras escritas no artigo anterior: “Quais são minhas culpas reais? Isso são culpas imaginárias? Aquelas palavras não valeriam para mim?”


Estava tudo tão bem, porém agora os dias estavam estranhamente estranhos e assim bem redundantes mesmo. Peguei meu celular e chequei as mensagens, uma delas era um recadinho de uma querida amiga: “Oi, amada! Passando para saber como você está. Estou orando por você.” Essas palavras encheram meus olhos de lágrimas, pois alguém estava orando por mim. O fim de semana chegou, e as coisas ainda não estavam tão bem dentro de mim. Fui ao culto, cantei, ouvi a mensagem, voltei para a casa, e na manhã de segunda-feira me levantei, peguei minha bíblia e orei; rasguei meu coração diante do Senhor, implorei por socorro. Eu não poderia passar mais uma semana angustiada. Busquei ao Senhor. Meu sofrimento intenso encontrou consolo no Salmo 77 e eu te convido a lê-lo para acompanhar a meditação que farei nele a partir de agora.


Quem dera Deus me ouvisse

O Salmo 77 retrata o estado da alma do Salmista que estava mergulhado em desespero por causa de seus conflitos interiores. Algumas versões trarão este Salmo dividido em pausas (Selah/Interlúdio) e se seguirmos essas divisões poderemos notar claramente o Salmista conturbado rogando por socorro nos versos 1-3, lamentando-se e questionando-se nos versos 4-9 e dos versos 10-15 voltando seu olhar para Deus, e por fim, dos versos 16-20 lembrando dos feitos do Senhor.


Sabemos que os Salmos são poesias cantadas, mas não sabemos ao certo qual seria sua melodia. O termo “Selah”, no hebraico, refere-se a um termo musical e isto é unanimidade entre os estudiosos, mas embora se refira a isso, seu significado pode variar, por isso existem algumas possibilidades: pode derivar do termo “Salal” que significa “levantar”, indicando assim uma instrução para levantar o volume da voz ou dos instrumentos durante o interlúdio. Poderia nos indicar também, que estes Salmos não eram somente lidos e que faziam parte da liturgia dos Israelitas, indicava uma pausa refletindo a compreensão do interlúdio instrumental e daquilo cantado anteriormente. E, por fim, poderia ter o mesmo significado do “amém” como que se afirmando o que acabou de ser cantado. Particularmente eu gosto da definição da pausa reflexiva, onde você medita entre um interlúdio e outro sobre aquilo que já foi cantado. Quantas pausas reflexivas sobre nossa vida materna precisamos dar, para que possamos observar os feitos do Senhor em nossa jornada maternal?


Antes da primeira pausa neste Salmo, três versos descreveram a angústia do Salmista. Percebam que diante da tribulação de sua alma ele chora e se lembra. Ele persevera de mãos erguidas e mesmo estando em agonia ele ora, ora até obter sua resposta, ele ansiava pela ajuda do Senhor.


Talvez o salmista esperasse que Deus pudesse mudar a sua circunstância. Selah- pausa. Pensemos sobre isso: diante das agonias de nossa alma aflita, nós até oramos ao Senhor, talvez não tão perseverantes como o Salmista, a ponto de estarmos com as mãos levantadas ao céu a noite toda, mas sim, balbuciamos pequenos pedidos de socorro para aquele que pode nos socorrer. Contudo, parece que tudo o que temos é o silêncio de Deus. Quem dera o Senhor nos ouvisse!


Novamente o Salmista volta a entoar seu canto melancólico: “Acaso o Senhor o rejeitou por definitivo? Ele não o ama mais? Não cumprirá suas promessas?” O salmista questiona-se tentando compreender a sua situação. Suas perguntas atingem o ápice, ao duvidar da bondade de Deus, e então, Deus só poderia estar irado sem nenhuma compaixão. Selah – pausa. Pensemos novamente sobre isso: os versos 4-9 refletem nossa reação diante do silêncio de Deus: perdemos o sono, pois não podemos descansar em nossas camas enquanto nossas almas não encontram o descanso em Deus. São nesses momentos que passamos a duvidar da bondade de Deus, esquecemos que Deus não muda, esquecemos que ele é grande em compaixão, que é bom e sua misericórdia dura para sempre, mesmo diante de lembranças de sua bondade em nossas vidas, ainda assim deixamos a dúvida tomar conta de nossa mente e concluímos que Deus nos rejeitou.


Retornando novamente a entoar seu cântico, o Salmista chega a conclusão de que Deus realmente voltou a sua mão contra ele, mas de alguma forma, ele não esquece que Deus outrora agiu com bondade para com Ele. E dos versos 10-15 ele rememora os feitos grandiosos do Senhor, reconhecendo que Deus realiza maravilhas no meio do seu povo e como Ele os resgatou. Selah- Pausa. Continuemos a refletir sobre isso: Quando estamos angustiadas demais é difícil pensar com clareza e por isso, muitas vezes, chegamos a conclusões como as do Salmista: “Deus se voltou contra nós”. Mas quando temos o Espírito do Senhor, somos lembradas de que o Deus que nos tirou das trevas e nos trouxe para o reino da sua maravilhosa luz, é o Deus que nos redimiu, não porque fizemos algo para que ele nos amasse mais, mas porque Ele, por meio da sua Graça, decidiu nos redimir. Deus não deixou de ser santo, poderoso, grande e misericordioso, só porque nós estamos passando por situações angustiantes, e bem provavelmente, ele não mudará nossas circunstâncias, talvez por isso o Salmista deduziu anteriormente que Deus o abandonou a ponto de ele perder o próprio sono. Deus certamente retirou o bálsamo do sono para que ele pudesse aprender a descansar na Verdade, porque até então seus pensamentos estavam focados em mentiras a respeito de quem Deus era.


Indo agora para a parte final desse cântico, o Salmista encerra suas palavras fazendo referência ao período do êxodo, desde os versos 14 ele já vinha relembrando a redenção do povo do cativeiro do Egito, e no verso 16 relembra a passagem pelo Mar Vermelho e as tempestades do Sinai (versos 17,18 em alusão à Êxodo 19). Ele encerra abruptamente como quem tivesse retomado os ânimos e descoberto: É isso! Minhas circunstâncias não irão mudar, como muitas das quais já passei, mas em todas elas Deus supriu. Embora parecesse que Deus estava em silêncio, Ele estava agindo, assim como ninguém percebeu as suas pegadas (verso 19) ele oculta seus caminhos do entendimento dos mortais, mas cumpre seus propósitos. E não importa para onde Deus leve o seu povo, ele sempre proverá tudo o que este povo precisa, mesmo em meio às circunstâncias difíceis.


“ Quem dera Deus me ouvisse!”, clamou o Salmista. Deus não somente ouvia ao Salmista como agia em sua vida. Deus não somente vê nossas angústias, como se faz presente em todas elas.



Selah – Uma pausa para reflexões e resoluções


Estamos chegando mais uma vez ao final de um ano. Talvez muitas de nós estão submersas em angústias, culpadas por não ter dado conta, e tudo que conseguem fazer é balbuciar algumas palavras aflitas, duvidando de que Deus está realmente ouvindo. “Selah” – faça uma pausa, querida mamãe. Reflita nos feitos maravilhosos que Deus realizou em sua vida durante esse ano. Não importa por onde Deus a levou, pois Ele supriu suas necessidades. Mesmo vivendo nos altos e baixos da maternidade, nós podemos confiar na bondade, misericórdia, amor e cuidado de Deus para com todas aquelas que descansam em seu amor, mas também para todas aquelas que se angustiam aflitas com as dificuldades da vida, por meio de Jesus, como bem disse Spurgeon: “Nossas orações, por mais fracas que sejam, encontram aceitação envoltas em Suas orações; nossos louvores tornam-se doces ao serem envoltos em feixes de mirra, aloés e cássia do jardim de Cristo. Se não pudermos levar a Ele, exceto nossas lágrimas, Ele as colocará com as Suas próprias lágrimas em seu jarro, pois Ele um dia chorou. Se não podemos entregar-lhe nada, exceto nossos gemidos e suspiros, Ele os receberá como sacrifício aceitável, pois Ele já teve seu coração ferido e suspirou profundamente em espírito. Nós, diante d’Ele, somos aceitos no Amado; e todas as nossas obras corrompidas, ainda que em si mesmas sejam apenas objeto de aversão divina, são recebidas de tal forma que Deus sente nelas um aroma suave. Ele fica satisfeito e nós somos abençoadas.” (Charles H. Spurgeon)


Somos culpadas? Sim! Porém, redimidas para sempre.


Não sabemos quais caminhos percorreremos no ano de 2024, por isso eu te convido, diante desta reflexão, a tomar uma decisão de iniciar um novo ano com firmes resoluções, assim como Jonathan Edwards os fez, estando certa de que por mais que você vacile em algum momento, lembre-se do que Edwards disse antes de firmá-las:

“Sendo sensível ao fato de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, humildemente rogo-lhe, pela sua graça, que me capacite a manter essas resoluções até o ponto em que elas sejam agradáveis à sua vontade, por amor a Cristo.” (Jonathan Edwards)


Sei, queridas mamães, que a jornada da maternidade nos cansa, e que muitas vezes estamos angustiadas e cheias de culpa. Dirigir sozinha pela cidade comendo doces pode até aliviar as tensões momentaneamente, mas não resolve nossos problemas angustiantes. Nós encerramos o ano e adentramos em outro cheias de temores, culpadas e estagnadas, e certamente, não enxergando um palmo diante do nariz. Não deve ser assim, temos algo muito mais sublime para nos firmar, Cristo! A Rocha. Que nossa primeira resolução para o ano vindouro seja colocarmos em prática tudo aquilo que aprendemos de Cristo, não apenas ouvirmos sobre o que lhe agrada, mas obedecermos a Ele, confiantes de que quem nos capacita é seu Espírito. Os vales se apresentarão, os desertos chegarão, mas lembremo-nos do que Ele nos disse: “Eu estarei convosco TODOS os dias até a consumação dos séculos”. Ainda que não percebamos suas pegadas ao nosso lado, essa é a nossa confiança: Ele está lá.




Referências:

Bíblia NVT – Nova Versão Transformadora;

Bíblia Arqueológica;

Comentário Bíblico Vida Nova – D.A.Carson, R.T. France, J.A. Motyer, G.J. Wenham;

Os Tesouros de Davi – Charles H. Spurgeon – Volume 2 – CPAD;

As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards – Steven J. Lawson – Editora Fiel.


1 Comment


Guest
Feb 14, 2024

Excelente reflexão

Like
bottom of page