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Maternar e a Beleza

Updated: Aug 3, 2024


Ana: Quem é essa agora?

Bella: Não sei, mas ela é perfeita...

Sra. Boniteza vem desfilando.

Sra. Boniteza: isso mesmo, minha jovem feinha. Sou a sra. Boniteza, nem branca de neve foi tão linda como eu sou, sabe por quê?

O grupo balança a cabeça afirmando que não.

Sra. Boniteza: porque ela não podia fazer plásticas, é claro. Já fiz mais de 30, fora a dieta e a academia que são sagrados para mim. Por isso eu tenho o que vocês precisam.


Esse é um trecho do teatro infantil que estamos preparando para as crianças de nossa igreja. A história conta sobre quatro amigos que estão em busca da fonte da felicidade, e a sra. Boniteza os tenta convencer que beleza é tudo que eles precisam.


Certamente nós não acreditamos que beleza é a fonte da felicidade, mas quanto da nossa felicidade depende das nossas noções equivocadas sobre beleza? Quanto do nosso humor maternal está tantas vezes agarrado a imagem que nossos espelhos refletem?


Não sei você, mas muitas vezes, principalmente no puerpério, ao me olhar no espelho, eu chorava me vendo descabelada, vestindo não algo que eu gostava, mas algo que servia. Eu não conseguia ver beleza em mim, e não conseguia que a beleza subjetiva do momento que eu estava vivendo fosse forte suficiente para sobrepor a estética que eu perdi.


O tempo vem passando, e sinto uma satisfação enorme nos dias em que posso simplesmente soltar o cabelo por algumas horas ou gastar um tempo em meu banheiro, sozinha, fazendo a unha ou apenas passando um hidratante no rosto. Somos bombardeadas com as frases sobre nossos direitos de momentos de skincare ou academia, mas na prática, a responsabilidade precisa vencer o direito e nos sentimos feridas, injustiçadas por não poder cultuar nossa selfie , como manda a cartilha secular da atualidade.


A beleza existe e ela é boa, a grande pergunta é: o que é beleza? E o que consideramos belo, e por quê? Quais os pressupostos que constroem nossa visão de beleza e como isso afeta nossa autoimagem?


Recentemente, falamos ao grupo de mulheres de nossa igreja sobre modéstia, autoimagem e envelhecimento, e de como nossa visão secularizada de beleza tem afetado nossa vida e nos feito lidar com tudo isso longe das lentes do evangelho.


Somos um dos países que mais realizam cirurgias plásticas no mundo, e nós cristãs, temos cooperado bastante nessa estatística. O mundo das personalidades gospel atual é formado por muitas mulheres que seguem à risca a moda e costumam ter uma estética impecável, além de desfilar estilos de vida ostentadores. Nossa noção de beleza está muito baseada nos pressupostos de supervalorização pessoal, onde a vaidade é uma virtude na era da selfie. 


O mundo que nos rodeia, nos chama em cada rolar da nossa timeline à comparação. Consumimos dia e noite, mães irreais; mulheres de olhar romântico e pleno em seus vestidos floridos e cabelos longos, sempre limpos. Quem sabe, o espetáculo da mãe que voltou ao seu jeans três meses após o parto ou talvez a mãe de filhos já jovens, que desfila aos cinquenta anos seu corpo e rosto de trinta e cinco. No fim, nós pesamos na balança e sempre concluímos que nos falta algo.


Richella Parham escreveu um livro chamado O Mito da Perfeição, ela nos conta sua trajetória de comparação sendo portadora de uma síndrome rara. A autora conta como sua aparência a levara a se comparar com frequência: “Eu era implacável comigo mesma, imaginando que deveria sempre ser diferente e melhor [...] Ao observar a mim mesma e a meus amigos, percebi que esse jeito de viver era absolutamente exaustivo. Tentar estar à altura de tantos padrões diferentes não nos ajuda a atingir esses padrões; apenas nos cansa.” 


Cansa. Ter uma visão secular de nossa autoimagem é exaustivo, e isso tem nos levado a muitas inadequações, inquietações e descontentamento nesse caminho chamado maternidade. 


Deus criou a verdadeira beleza, Ele deve ser o ponto de partida para nossa construção do conceito. Quando paramos para pensar nos atributos do nosso Deus e em sua criação, temos um panorama do que deveria ser considerado belo por nós. A nossa dificuldade é que nosso coração costuma estar mais comprometido com nossos sentimentos do que com Deus e a nossa visão sobre beleza está arraigada a coisas externas que na maioria das vezes somente o dinheiro pode nos dar.


Outra questão que precisamos refletir, é que existe uma beleza subjetiva, que precisa ser valorizada tanto quanto a beleza física, tão em evidência. Não precisamos e nem devemos desmerecer a beleza exterior, mas o conceito de beleza bíblica é multifacetado e não se limita apenas à aparência física. Na Bíblia, a beleza é frequentemente associada a virtudes e características espirituais, além do aspecto estético:

  1. Beleza Interior: A Bíblia enfatiza que a verdadeira beleza vem de dentro. Em 1 Pedro 3:3-4, por exemplo, é destacado que a beleza de uma mulher deve ser a do "coração manso e tranquilo", em vez de meros adornos externos. Isso sugere que qualidades como humildade, bondade e caráter são mais valiosas do que a aparência física.

  2. Beleza e Virtude: Muitas vezes, a beleza está ligada à virtude e ao comportamento. Em Provérbios 31:30, é dito que "a beleza é enganosa, e a formosura é passageira; mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada." Isso reforça a ideia de que a verdadeira beleza está em viver uma vida de acordo com os princípios divinos.

  3. Beleza Espiritual: Em termos espirituais, a beleza é frequentemente associada à pureza, à justiça e à verdade. Em Salmos 96:6, a beleza é atribuída à santidade de Deus e à Sua glória.


Em resumo, o conceito de beleza na Bíblia vai além do visual e está profundamente enraizado em qualidades espirituais e morais. A beleza verdadeira, segundo a visão bíblica, é aquela que reflete um caráter piedoso e a presença de Deus na vida de uma pessoa.


Sabendo disso, porém, nem sempre essa visão de beleza nos enche os olhos como a que nos é oferecida nos anúncios de cosméticos, no banner da academia ou na revista da recepção da clínica de dermatologia. Nosso coração precisar ser inclinado a querer e valorizar a beleza bíblica, e isso só acontecerá se reconhecermos nosso pecado e rendidas, buscarmos a Deus mais do que os nossos desejos. Ansiar a beleza bíblica é coisa de quem entendeu que seu lugar não é nesse mundo, somos cidadãs de outro reino, carregamos em nós a beleza do Deus que tudo fez e tudo pode. As lentes do evangelho precisam ser, muitas vezes, colocadas à força em nossos olhos, para que a distorção de nossa visão seja manifestada. 


Somos mães, há algo muito belo no que se refere a esse lugar, mas nossa beleza não deve estar nisso também. Não devemos ser reconhecidas pela beleza de nossa maternidade, mas pela beleza do evangelho que abraça nosso maternar, apesar de nossas falhas. Somos chamadas a mostrar para nossos filhos a beleza de Deus como absoluto; lugar de deleite, amor, acolhimento e paz. Devemos olhar para nossos espelhos sem deixar que ele nos dê os veredictos de nosso valor, mas travar as lutas necessárias com ele, a fim de que a palavra final não venha do espelho, das roupas, da pele, mas da graça de Deus preenchendo constantemente as faltas de nosso coração.


Há beleza no maternar, mas ela não está em nós, mas nAquele que não nos abandona e é em si, a própria beleza.

1 Comment


Guest
Aug 02, 2024

Ual! Que texto belo e enriquecedor!

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