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Maternar e Consumo

Writer's picture: Mirelli TurrossiMirelli Turrossi

“Inscreva-se na semana da mamãe perfeita; um evento totalmente online e gratuito, onde irei te ensinar os segredos do maternar perfeito!”


Brincadeirinha, mas aposto que você já viu na sua timeline milhares de semanas gratuitas que te prometem muito, mas no fundo, só querem te vender um curso no final. 


Se você for como eu, meio desacreditada desse discurso, e ainda participou de alguma dessas semanas, mas depois se arrependeu amargamente, bem vinda ao clube.


Mulheres são em todos os tempos consumidoras em potencial. Dias atrás, comentava com meu marido como o comércio consegue ter sempre tantas coisas maravilhosas, para que nós, mulheres, desejemos comprar. Poder de compra: isso sim é que é empoderamento de verdade. É impressionante como sempre temos a necessidade de ter uma roupa, um sapato, um eletrodoméstico; essa fonte simplesmente nunca se esgota, nunca há saciedade, e não precisamos negar o quão atrativo essas coisas são.


Daí vem a maternidade, e um novo mundo de possibilidades se abre: enxoval personalizado, ensaios fotográficos, mini roupas da Carter’s, e, com os anos, passamos a consumir todo tipo de educação possível, para garantir que nossos filhos sejam bem-sucedidos na vida. Não podemos nos esquecer também, de promover festas de aniversários que sejam inesquecíveis, talvez não para eles, muito mais para nós mesmas.


Marketing é uma ciência levada muito a sério, e nós, grupo considerável de suas investidas, temos vivido muitas vezes como se consumir fosse semelhante a respirar: totalmente natural e aceitável. Afinal, estamos apenas visando nosso bem-estar. 


A maneira como consumimos o que está ao nosso redor fala da nossa cosmovisão. Consumo tem a ver com dinheiro porque compramos coisas materiais e subjetivas com ele; tem a ver com tempo, porque gastamos nossos dias consumindo informações; tem a ver com nossa vida, porque o que consumimos diz muito sobre nossos amores, faltas e prioridades. Nosso consumo fala de como enxergamos Deus e seu Reino, e isso é muito sério.


Não há neutralidade no consumo, ele estará baseado nos pressupostos que carregamos, nas verdades que acreditamos, naquilo com o qual nosso coração está comprometido, e creia, nosso coração está muito comprometido com nosso conforto, bem-estar e a opinião alheia.


Logo, se acreditamos que nossa vida só está sendo boa se conseguimos tornar nossa casa e estilo de "vida instagramável", se pudermos fazer as viagens que sonhamos ou garantir aos nossos filhos a melhor escola da cidade, estamos com isso dizendo que nosso deus somos nós mesmas, assim como o pensamento secular nos ensina.


A Bíblia fala muito sobre dinheiro e finanças, Jesus disse: “onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mateus 6:21); nos adverte sobre ajuntar coisas materiais aqui nesse mundo (Mateus 6.19); nos avisa sobre a inutilidade de ganhar o mundo inteiro e perder nossa alma (Marcos 8:36). Nós conhecemos bem esses textos, mas por alguma razão, temos dificuldades de entender que eles são para nós também, talvez porque não estamos usando o especial do cartão de crédito, por não nos sentirmos consumistas compulsivas.


Timothy Keller, em seu livro “Falsos deuses”, fala que “a ganância se esconde da própria vítima. O modus operandi do deus dinheiro inclui a cegueira em nosso próprio coração.” E eu te convido, com sinceridade, a pensar comigo no que temos gastado nosso dinheiro, tempo e emoções. Quanto de nossa renda familiar está sendo gasta com o Reino de Deus?


Tozer escreveu: “Devemos pagar impostos e prover as necessidades da vida para nós e nossa família, quando a temos. Isso não passa de rotina e diz pouco a nosso respeito. Mas o dinheiro que sobrar para ser usado no que nos agrada irá contar-nos sem dúvida muita coisa sobre nós.”


Como mães, é compreensível que queiramos dar tudo que pudermos aos nossos filhos. Mas uma das coisas que me pergunto sobre minha própria realidade é: parece certo na visão de mundo cristã, que meu filho tenha tudo, enquanto irmãos em cristo não tenham o básico para seus filhos? No cristianismo os filhos de outros cristãos fazem parte da minha família também, eu preciso os enxergar como meus sobrinhos, netos e até mesmo como meus próprios filhos. Assim, eu posso e devo abdicar de dar algumas coisas, muitas vezes supérfluas, para meu filho, afim de abençoar outras crianças, e não há nenhuma virtude nisso, esse deveria ser o nosso normal.


Se queremos, como mães, ter uma noção melhor de nossa própria dificuldade nesse assunto, basta lembrar do quanto nos comparamos. Parte de tudo que consumimos está baseado na comparação com alguma outra mãe que tem a poltrona de amamentação que não temos, o procedimento estético para diástase que não temos, o quarto montessori que não temos, o filho bilíngue que não temos, e por aí vai. A insatisfação é a mãe do consumo, quanto mais a temos, mas nutrimos seu filho insaciável, e aqui está nossa grande luta: estar satisfeitas.


Jhon Piper fala muito sobre como devemos estar satisfeitos em Cristo, ele diz: “Somos alegria para Deus quando Ele é nosso tesouro”, e devemos nos perguntar, com constrangimento, tantas vezes, por que não estamos satisfeitas em Cristo? Por que não há espaço em nossa vida para abrir mão de consumir algumas coisas, entendendo que tantos ao nosso redor precisam de nossa ajuda? Por que estamos imitando o estilo de vida de pessoas não cristãs, sem cogitar suas prioridades em virtude das que o evangelho nos apresenta?


Minha cara amiga, estamos todas, vez ou outra, entrando no barco da ganância, da inveja, da necessidade de aprovação, e nosso coração idólatra de si anda realizado. 


A maneira como consumimos está ensinando nossos filhos a consumir, estamos dizendo para eles o que realmente importa, e não sejamos bobas, filhos são ótimos radares de incoerências, eles podem nos ver praticando o cristianismo como uma religião, sabendo que o mesmo em nada interfere em áreas diversas de nossa vida. Eles sabem onde está o nosso coração, e a urgência disso precisa nos leva aos pés da cruz, para que Deus nos ajude a amá-lo de tal forma que nossos filhos o vejam como nosso tesouro mais precioso.


Meu desejo sincero é que meu filho ame a Deus com todo o seu coração, e eu luto todos os dias para que minha insatisfação, ganância e inveja sejam revestidas pela abundância de graça que Deus me oferece. Eu não posso descansar, nessa luta constante contra mim mesma, queira Deus que o meu filho veja, mesmo em meio as minhas tantas cicatrizes, Cristo como estandarte que levou a todas as vitórias. 

2 Comments


Guest
Jul 23, 2024

Texto maravilhoso! Obrigada querida Mi.

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Guest
Jun 29, 2024

Texto muito necessário. Obrigada. Eu amei!

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